Educação no Brasil O Estado de S. Paulo
Vida
BR
Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA
Martin Carnoy, Economista e professor da Universidade de Stanford
Para o economista e educador norte-americano Martin Carnoy, o Brasil precisa investir melhor na formação não só de seus professores, mas também dos diretores e ds equipe de apoio das escolas. Carnoy estará no Brasil em agosto, para o encontro internacional de educação Sala Mundo Curitiba 2011 (www.salamundo.com.br). Leia abaixo a entrevista que ele concedeu ao Estado. O sr. escreveu um livro sobre o sistema educacional cubano (A vantagem acadêmica de Cuba). Quais lições o Brasil pode aprender com os cubanos? O Brasil deve continuar sua luta contra a pobreza infantil. Embora Cuba seja um país de baixa renda, as crianças são saudáveis e bem alimentadas e não enfrentam a violência cotidiana. Elas não sofrem as condições associadas à pobreza que têm um efeito esmagador sobre a capacidade de aprender. Além disso, o Brasil precisa formar melhor seus professores. Os cubanos são mais bem treinados para ensinar. O Brasil também precisa fazer um trabalho muito melhor de treinamento dos diretores, para eles se certificarem de que os professores estão ensinando bem o currículo. Os diretores de escolas cubanas têm uma ideia muito bem formada sobre como fiscalizar e ajudar os professores a ensinarem bem o currículo nacional. O Brasil precisa se certificar de que os padrões curriculares nacionais sejam ensinados em todas as escolas. Cuba é um país muito menor, mas as normas são aplicadas em toda ilha. Por fim, na maioria das escolas brasileiras, as crianças têm apenas algumas horas de aula por dia. Em Cuba, as crianças estão na escola o dia inteiro. Quais diferenças o sr. vê entre os sistemas educacionais de Brasil e Cuba? Em Cuba, aonde quer que você vá, você vê um nível semelhante e o mesmo método de ensino. Embora nem todo professor em Cuba seja um grande professor. No Brasil, há uma variação enorme na qualidade do ensino de sala de aula para sala de aula. Além disso, o nível de conhecimento dos professores é muito maior em Cuba do que no Brasil. Isso se deve, em parte, à formação de professores, que é muito melhor em Cuba. Professores cubanos passaram por melhores escolas do que professores brasileiros. São melhores em matemática, linguagem e ciências antes mesmo de entrarem na universidade. O que faz um bom sistema educacional? Crianças saudáveis e bem alimentadas que foram inseridas em um ambiente acadêmico rico em casa ou em uma pré-escola de qualidade antes de ingressarem na escola primária; professores bem treinados, que dominam os assuntos e se sentem confiantes frente a um currículo de alto nível; administradores que têm uma ideia clara do que é um bom ensino e são capazes de ajudar cada professor; e, por fim, que o dia na escola tenha mais aprendizado do que as crianças têm hoje. O Brasil teve um grande avanço no último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). É um sinal que a educação melhorará? Sim, não há dúvidas de que o Brasil teve grandes ganhos em matemática e avanços menores, mas ainda significativos, em leitura desde o Pisa 2000 e mesmo desde a edição de 2006. México e Chile também deram grandes passos. Isso é bom. O único cuidado que eu teria ao analisar essa situação é que ela depende do tamanho da amostra brasileira que faz as provas do Pisa.
QUEM É
Martin Carnoy é doutor em Economia pela Universidade de Chicago e professor na Universidade Stanford (EUA). Seu último livro é A vantagem acadêmica de Cuba.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
ATRASO ESCOLAR
Educação no Brasil
Folha de S. Paulo
Opinião
BR
Editoriais editoriais@uol.com.br
Os avanços da educação no Brasil, em décadas recentes, têm trazido consigo resultados a um só tempo ambíguos e preocupantes. A inclusão da quase totalidade das crianças de até 14 anos no ensino fundamental (que hoje vai do 1º ao 9º ano), durante a década de 1990, por exemplo, provocou inicialmente uma inevitável queda no nível médio de aproveitamento dos alunos na rede pública.
De forma mais lenta do que seria desejável, já se constata, nos últimos anos, uma elevação no rendimento escolar dessa parcela de estudantes. Ao que tudo indica, fenômeno análogo ocorre agora com o aumento da fração de alunos do ensino fundamental que estão fora da série adequada para a sua idade, segundo números recém-divulgados pelo governo federal. Em condições ideais, uma criança deve ingressar na escola aos seis anos e chegar ao ensino médio aos 14. Um estudante é considerado defasado em sua trajetória escolar quando tem pelo menos três anos a mais do que o condizente com a série em que estuda, de acordo com esse critério. Dados do Ministério da Educação mostraram que, no ano passado, a parcela de estudantes do ensino fundamental nessa situação chegou a 23,6% do total, cerca de 7 milhões de crianças e adolescentes. Em 2008, a taxa era de 22,1%. O problema se concentra, no entanto, nos anos finais da formação fundamental, uma vez que o número de alunos que entram com atraso na primeira série desse ciclo tem diminuído. Ou seja, cada vez mais, adolescentes e jovens que antes desistiam da escola sem conseguir chegar ao ensino médio têm preferido permanecer em sala de aula, mesmo com considerável atraso em relação a seus colegas. Os desafios para esses estudantes são tão grandes quanto os que se impõem aos responsáveis por sua educação. Quanto maior a defasagem entre um aluno e a série em que está matriculado, maiores as chances de ele vir a desistir da educação formal. Não à toa, as taxas de abandono no ensino médio ainda são muito altas no Brasil, ficando próximas dos 20%. Para trazê-las a níveis aceitáveis, é preciso reduzir a idade média dos alunos que chegam a essa etapa da formação escolar, diminuindo o percentual de estudantes defasados nos anos finais do ensino fundamental. Reproduzir, entre adolescentes e jovens, o processo de inclusão que levou a quase totalidade das crianças brasileiras à escola será, portanto, ainda mais difícil. Nesse caso, a quantidade depende ainda mais estreitamente da qualidade. Só o investimento na melhoria do ensino, com treinamento adequado dos professores e atenção especial aos alunos atrasados e repetentes, será capaz de aumentar as taxas de aprovação no ensino fundamental e mitigar as atuais distorções de aprendizagem e de trajetória escolar no Brasil.
Folha de S. Paulo
Opinião
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Os avanços da educação no Brasil, em décadas recentes, têm trazido consigo resultados a um só tempo ambíguos e preocupantes. A inclusão da quase totalidade das crianças de até 14 anos no ensino fundamental (que hoje vai do 1º ao 9º ano), durante a década de 1990, por exemplo, provocou inicialmente uma inevitável queda no nível médio de aproveitamento dos alunos na rede pública.
De forma mais lenta do que seria desejável, já se constata, nos últimos anos, uma elevação no rendimento escolar dessa parcela de estudantes. Ao que tudo indica, fenômeno análogo ocorre agora com o aumento da fração de alunos do ensino fundamental que estão fora da série adequada para a sua idade, segundo números recém-divulgados pelo governo federal. Em condições ideais, uma criança deve ingressar na escola aos seis anos e chegar ao ensino médio aos 14. Um estudante é considerado defasado em sua trajetória escolar quando tem pelo menos três anos a mais do que o condizente com a série em que estuda, de acordo com esse critério. Dados do Ministério da Educação mostraram que, no ano passado, a parcela de estudantes do ensino fundamental nessa situação chegou a 23,6% do total, cerca de 7 milhões de crianças e adolescentes. Em 2008, a taxa era de 22,1%. O problema se concentra, no entanto, nos anos finais da formação fundamental, uma vez que o número de alunos que entram com atraso na primeira série desse ciclo tem diminuído. Ou seja, cada vez mais, adolescentes e jovens que antes desistiam da escola sem conseguir chegar ao ensino médio têm preferido permanecer em sala de aula, mesmo com considerável atraso em relação a seus colegas. Os desafios para esses estudantes são tão grandes quanto os que se impõem aos responsáveis por sua educação. Quanto maior a defasagem entre um aluno e a série em que está matriculado, maiores as chances de ele vir a desistir da educação formal. Não à toa, as taxas de abandono no ensino médio ainda são muito altas no Brasil, ficando próximas dos 20%. Para trazê-las a níveis aceitáveis, é preciso reduzir a idade média dos alunos que chegam a essa etapa da formação escolar, diminuindo o percentual de estudantes defasados nos anos finais do ensino fundamental. Reproduzir, entre adolescentes e jovens, o processo de inclusão que levou a quase totalidade das crianças brasileiras à escola será, portanto, ainda mais difícil. Nesse caso, a quantidade depende ainda mais estreitamente da qualidade. Só o investimento na melhoria do ensino, com treinamento adequado dos professores e atenção especial aos alunos atrasados e repetentes, será capaz de aumentar as taxas de aprovação no ensino fundamental e mitigar as atuais distorções de aprendizagem e de trajetória escolar no Brasil.
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