17 de dezembro de 2011
Tratamos já do desafio de como alimentar sete bilhões de pessoas. A escalada da população humana é crescente: em 2025, se o aquecimento abrupto não ocorrer, seremos 8 bilhões; em 2050, 9 bilhões; e em 2070, 10 bilhões. Há biólogos como Lynn Margulis e Enzo Tiezzi que veem nesta aceleração um sinal do fim da espécie à semelhança das bactérias, quando colocadas num recipiente fechado. Pressentindo o fim dos nutrientes, se multiplicam exponencialmente e então subitamente todas morrem. Seria a última florada do pessegueiro antes de morrer?
Independentemente desta ameaçadora questão, temos o instigante desafio: como governar 7 bilhões de pessoas? É o tema da governança global. Esta configuração é uma exigência da globalização, pois implica o entrelaçamento de todos com todos dentro de um mesmo e único espaço vital. Mais dia, menos dia, uma governança global vai surgir, pois é uma urgência impostergável para enfrentar os problemas globais e garantir a sustentabilidade da Terra.
A ideia em si não é nova. Como pensamento, estava presente em Erasmo e em Kant, mas ganhou os primeiros contornos reais com a Liga das Nações, após a 1ª Guerra Mundial e definitivamente depois da 2ª Guerra Mundial com a ONU. Esta não funciona por causa do veto antidemocrático de alguns países que inviabilizam qualquer encaminhamento global contrário a seus interesses. Organismos como o FMI, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio, da Saúde, do Trabalho, das Tarifas, do Comércio (Gatt) e a Unescoexpressam a presença de certa governança global.
Atualmente, o agravamento de problemas sistêmicos como o aquecimento global, a escassez de água potável, a má distribuição dos alimentos, a crise econômico-financeira e as guerras estão demandando uma governança global.
Esta globalização se dá também em nível cibernético, feita por redes globais, uma espécie de governança sem governo. O terrorismo provocou a governança securitária nos países ameaçados. Há um governança global perversa que podemos chamar de governança do poder corporativo mundial feita pelos grandes conglomerados econômico-financeiros que se articulam de forma concêntrica até chegar a um pequeno grupo que controla cerca de 80% do processo econômico. Estes são os conteúdos básicos de uma governança global sadia: a paz e a segurança, evitando o uso da violência resolutiva; o combate à fome e à pobreza de milhões; a educação acessível a todos para serem atores da história; a saúde como direito humano fundamental; moradia minimamente decente; direitos humanos pessoais, sociais, culturais e de gênero; direitos da mãe Terra e da natureza, preservada para nós e para as futuras gerações.
Para garantir estes mínimos, comuns a todos os humanos, precisamos relativizar a figura dos Estados nacionais que tendencialmente irão desaparecer em nome da unificação da espécie humana sobre a Terra. Como há uma só Terra, uma só humanidade, um só destino comum, deve surgir também uma só governança, una e complexa, que dê conta desta nova realidade e permita a continuidade da civilização humana.
lboff@leonardoboff.com