Alexandre Sayad - 29/11/11
O que mais se discute, e se reflete, em relação à educação brasileira é a escassez – em todas as áreas. As greves de educadores, que minam o estudo do mais pobres, tem como pano de fundo a reivindicação de um salário menos ralo; se os jovens pudessem entrar em greve, pediriam certamente aulas menos esporádicas. Os secretários municipais, por sua vez, culpam a falta de qualidade do ensino pela escassez de recursos repassados da União, já intelectuais bradam contra a insuficiente porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) para a área. Na educação, menos nunca significou mais. No entanto, no combate à falta de sentido que a escola tem hoje para o aluno, há experiências em que a teoria minimalista pode se valer.
O escritor José Santos é um educador que buscou na economia de palavras, e nos caminhos da comunicação, uma maneira inteligente e sensível de unir aprendizado, identidade e sentido. Suas oficinas itinerantes de “micropoemas” valorizam a descoberta do verso pelas crianças e jovens – e o uso da poesia como expressão. O autor usa delicadeza e para desvelar os segredos de poemas curtos, inspirados muitas vezes na essência dos haikais japoneses. Mais que isso, ele estimula os estudantes a produzirem os seus próprios, que devem sintetizar desejos e refletir a vida de cada um – inclusive seu entorno comunitário.
Com os poeminhas prontos, chega a etapa mais importante do processo de comunicação: publicá-los. Com 140 caracteres, os poemas estão prontos para ser transmitidos pelo Twitter, ou mesmo por mensagem SMS de celular. Qualquer mídia que esteja na mão do jovem, seja barata e também eficiente na entrega da mensagem, ganha uma nova função. Os micropoemas também são geolocalizados, ou seja, “espetados” num mapa virtual (Google Maps) para que os autores possam encontrar-se fisicamente. A cidade torna-se assim um mapa de poemas – que simboliza um mapa de pessoas. José Santos trabalha umas das habilidades mais preciosas, e também mais raras no ambiente escolar: a linguagem. Ele desenvolveu seu talento em mais de quinze livros publicados para crianças e jovens, entre eles os criativos “Poemas para Vestir” (Estação das Letras e Cores – 2011) , que contam um pouco a história da moda. Quem, como eu, achava que 140 caracteres eram pouco, é bom repensar. Os micropoemas, ou o uso de redes sociais na primavera árabe, mostraram que, na linguagem atual da comunicação, podem significar o suficiente, ou até muito. A educação formal, sempre escassa de ousadia, sequer começou a descobrir isso.